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Catulo

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A porta se escancarou de uma vez com um chute violento, e o pé que a chutou imediatamente se plantou no chão dando firme apoio ao cano escuro do bacamarte seguro pela mão que se apoiava naquele pé que invadiu a sala quente da casinhola em Engenho de Dentro, no meio da mata, banhada pelo sol do começo da tarde, e a voz que mandava no pé, na mão e no dedo diante do gatilho gritou furiosa: “Catulo da Paixão Cearense, filho da puta! Tua hora chegou!” O velho ergueu a cabeça desprovida de cabelos, olhou com os olhos por detrás dos óculos arredondados, com um rosto triste e uma boca murcha, segurou o violão levantado e falou, sem pressa e sem alteração: “Quem me dera se eu morresse lá na serra, abraçado à minha terra, e dormindo de uma vez, ser enterrado numa cova pequenina onde à tarde a surunina chora sua viuvez. Coisa mais bela nesse mundo não existe, que ouvir um galo triste no sertão que faz luar. Parece até a alma da lua, que descansa escondida na garganta desse galo, a soluçar”. E m